segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Alguém me quis aqui - Pe. Zezinho

Leia e aprofunde esta reflexão. É difícil crer, sem passar por esta decisão de valorizar Deus como o Grande Outro de quem vieram todos os outros e entre eles o meu e o seu pequeno eu.
Um grande outro, a quem chamo "DEUS", nos criou a todos, e graças a Ele podemos dizer EU SOU, porque Ele foi o primeiro que usou esta expressão e continuará a usá-la eternamente. Por causa Dele, também nós poderemos dizer que somos enquanto existirmos. Eu sou quem sou é expressão muito mais profunda do que se possa imaginar. Afirma-nos como ser no meio de outros seres, mas nos torna mais do que cópias ou números. Nunca ninguém será eu, assim como eu jamais serei o que o outro é. No máximo serei como ele é.
Tudo começou com o ser que é, porque o Ser que É QUEM É resolveu um dia me criar e colocou-me aqui, neste tempo, nesta era, nesta hora, desses pais, com esses irmãos e nesse país para que eu seja! Não o fez por acaso. Quis criar mais um ser pensante e mais uma vida preciosa e me quis feliz.
Nasci para ser feliz porque Deus não cria ninguém para ser infeliz.
É meu primeiro chamado.
Nasci para fazer os outros felizes...
É meu segundo chamado.
Cada um de nós precisa descobrir como ser feliz e como fazer alguém feliz, pelo amor, pela convivência, pelo trabalho, pela profissão, pela palavra, pelos gestos, pela fé, pela cultura e por tudo o que pode facilitar a vida do meu irmão. Se sei fritar ovos e fazer pastéis posso resolver o problema de muita gente. É um jeito de me realizar. Se faço curativo no pé do meu amigo é outro jeito. Se carrego a cruz com ele, outro jeito. Se entendo de remédio, se opero, se limpo as ruas, se preparo carne, se planto verdura, se dou aulas, se fabrico brinquedos, se faço pão, tudo faz parte da minha missão de ser feliz, fazendo o que faço, e com isso, ajudar o meu irmão a ser feliz.
Não há como escapar a essa verdade. Nasci para ser feliz e fazer os outros felizes. Minha religião pode me ajudar nisso. Tenho o exemplo de milhares de santos que conseguiram. Tenho os ensinamentos da minha comunidade de fé. Tenho a Bíblia. E o que é mais importante: tenho Jesus, porque de fazer alguém feliz, ele é quem mais entende!
Sem esta mística andaremos pela vida como quem vai a uma feira com milhares de pessoas e esbarra em milhares delas sem sequer dizer um oi, tchau, bom dia, paz a você. Tocamos sem tocar, olhamos sem olhar, notamos sem notar, passamos sem passar. Vivemos a solidão de uma ilha. Os outros terão que vir a nós, porque nós não sabemos ir aos outros.
O verbo é ir... Quem não vai ao outro corre o risco de não saber porque veio a este mundo. Alguém nos quis aqui! E os verbos desse envio são: ser para os outros, amar os outros e ir aos outros! Sem isso, corremos o risco de virarmos ilhas. Sem o outro, nosso eu perde o seu sentido!

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domingo, 11 de agosto de 2013

11 de Agosto - Santa Clara de Assis

Clara nasceu em Assis, no ano 1193, no seio de uma família da nobreza italiana, muito rica, onde possuía de tudo. Porém o que a menina mais queria era seguir os ensinamentos de Francisco de Assis. Aliás, foi Clara a primeira mulher da Igreja a entusiasmar-se com o ideal franciscano. Sua família, entretanto, era contrária à sua resolução de seguir a vida religiosa, mas nada a demoveu do seu propósito.

No dia 18 de março de 1212, aos dezenove anos de idade, fugiu de casa e, humilde, apresentou-se na igreja de Santa Maria dos Anjos, onde era aguardada por Francisco e seus frades. Ele, então, cortou-lhe o cabelo, pediu que vestisse um modesto hábito de lã e pronunciasse os votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência.

Depois disso, Clara, a conselho de Francisco, ingressou no Mosteiro beneditino de São Paulo das Abadessas, para ir se familiarizando com a vida em comum. Pouco depois foi para a Ermida de Santo Ângelo de Panço, onde Inês, sua irmã de sangue, juntou-se a ela.

Pouco tempo depois, Francisco levou-as para o humilde Convento de São Damião, destinado à Ordem Segunda Franciscana, das monjas. Em agosto, quando ingressou Pacífica de Guelfúcio, Francisco deu às irmãs sua primeira forma de vida religiosa. Elas, primeiramente, foram chamadas de "Damianitas", depois, como Clara escolheu, de "Damas Pobres", e finalmente, como sempre serão chamadas, de "Clarissas".

Em 1216, sempre orientada por Francisco, Clara aceitou para a sua Ordem as regras beneditinas e o título de abadessa. Mas conseguiu o "privilégio da pobreza" do papa Inocêncio III, mantendo, assim, o carisma franciscano. O testemunho de fé de Clara foi tão grande que sua mãe, Ortolana, e mais uma de suas irmãs, Beatriz, abandonaram seus ricos palácios e foram viver ao seu lado, ingressando também na nova Ordem fundada por ela.

A partir de 1224, Clara adoeceu e, aos poucos, foi definhando. Em 1226, Francisco de Assis morreu e Clara teve visões projetadas na parede da sua pequena cela. Lá, via Francisco e os ritos das solenidades do seu funeral que estavam acontecendo na igreja. Anteriormente, tivera esse mesmo tipo de visão numa noite de Natal, quando viu, projetado, o presépio e pôde assistir ao santo ofício que se desenvolvia na igreja de Santa Maria dos Anjos. Por essas visões, que pareciam filmes projetados numa tela, santa Clara é considerada Padroeira da Televisão e de todos os seus profissionais.

Depois da morte de são Francisco, Clara viveu mais vinte e sete anos, dando continuidade à obra que aprendera e iniciara com ele. Outro feito de Clara ocorreu em 1240, quando, portando nas mãos o Santíssimo Sacramento, defendeu a cidade de Assis do ataque do exercito dos turcos muçulmanos.

No dia 11 de agosto de 1253, algumas horas antes de morrer, Clara recebeu das mãos de um enviado do papa Inocêncio IV a aguardada bula de aprovação canônica, deixando, assim, as sua "irmãs clarissas" asseguradas. Dois anos após sua morte, o papa Alexandre IV proclamou santa Clara de Assis.

Fonte: http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=santo

Prece do Pai

Ajudai-me, 
Senhor, na missão de pai, porque é difícil e pesado o encargo de sustentar a família e dar-lhe o bem-estar e a tranquilidade; 
e é quase heroísmo ser alegre com os familiares quando pesam as preocupações pessoais e os problemas da profissão. 

Ajudai-me, 
Senhor, na missão de pai, para que eu realize o diálogo com minha esposa e os filhos. Que eu seja aberto para ouvir, humilde para propor, sábio para decidir e co-responsável para realizar. 

Ajudai-me, 
Senhor, na missão de pai, para que eu saiba descobrir os valores de minha esposa e os talentos de meus filhos; e os ajude a desenvolvê-los. Saiba corrigir com amor, sem destruir nem humilhar. 

Ajudai-me, 
Senhor, na missão de pai, para que eu defenda a dignidade do meu lar contra a imoralidade atrevida e a permissividade tentadora, vivendo o amor com fidelidade e construindo a união que faz o lar feliz. 

Ajudai-me, 
Senhor, na missão de pai, para que eu possa ser sempre um testemunho de fé em Deus, coragem nas dificuldade, paciência nas provações e esperanças na dor. 
E que pelo apostolado familiar, ajude outras famílias a serem mais felizes. 

Ajudai-me, 
Senhor, na missão de pai, para que eu saiba dar valor à experiência sem me prender ao passado, saiba ser moderno e atualizado sem ser superficial e vazio; e conserve bem viva a vontade firme de acertar. 

Ajudai-me, 
Senhor, na missão de pai, para que eu creia firmemente que a grandeza da paternidade, 
assim vivida, não termina nem mesmo com a morte, porque os seus frutos são eternos.

Fonte: http://www.paulinas.org.br

terça-feira, 6 de agosto de 2013

06 de Agosto - Transfiguração do Senhor

A festa da "Transfiguração do Senhor" acontece no mundo cristão desde o século V. Ela nos convida a dirigir o olhar para o rosto do Filho de Deus, como o fizeram os apóstolos Pedro, Tiago e João, que viram a Sua transfiguração no alto do monte Tabor, localizado no coração da Galiléia. O episódio bíblico é relatado distintamente pelos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas. 

Assim, segundo São Mateus 9,2-10, temos: "Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e conduziu-os a sós a um alto monte. E transfigurou-se diante deles. Suas vestes tornaram-se resplandecentes e de uma brancura tal, que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia fazer assim tão brancas. Apareceram-lhes Elias e Moisés, e falavam com Jesus. Pedro tomou a palavra: "Mestre, é bom para nós estarmos aqui; faremos três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias". Com efeito, não sabia o que falava, porque estavam sobremaneira atemorizados. Formou-se então uma nuvem que os encobriu com a sua sombra; e da nuvem veio uma voz: "Este é o meu Filho muito amado; ouvi-O". E olhando eles logo em derredor, já não viram ninguém, senão só a Jesus com eles. Ao descerem do monte, proibiu-lhes Jesus que contassem a quem quer que fosse o que tinham visto, até que o Filho do homem houvesse ressurgido dos mortos. E guardaram esta recomendação consigo, perguntando entre si o que significaria: Ser ressuscitado dentre os mortos".

A intenção de Jesus era a de fortalecer a fé destes três apóstolos, para que suportassem o terrível desfecho de Sua paixão, antecipando-lhes o esplendor e glória da vida eterna. Também foi Pedro, que depois, recordando com emoção o evento, nos afirmou: "Fomos testemunhas oculares da Sua majestade" (2 Pd 1, 16).

O significado dessa festa é, e sempre será, o mesmo que Jesus pretendeu, naquele tempo, ao se transfigurar para os apóstolos no monte, ou seja, preparar os cristãos para que, em qualquer circunstância, permaneçam firmes na fé no Cristo. Melhor explicação, só através das inspiradas palavras do Papa João Paulo II, quando nesta solenidade em 2002, nos lembrou que: "O rosto de Cristo é um rosto de luz que rasga a obscuridade da morte: é anúncio e penhor da nossa glória, porque é o rosto do Crucificado Ressuscitado, o único Redentor da humanidade, que continua a resplandecer sobre nós (cf. Sl 67, 3)". 

Somente em 1457, esta celebração se estendeu para toda a cristandade, por determinação do Papa Calisto III, que quis enaltecer a vitória, do ano anterior, das tropas cristãs sobre os turcos muçulmanos que ameaçavam a liberdade na Europa.

Fonte: http://www.paulinas.org.br

Perdoa-me se eu orar errado - Pe. Zezinho, scj

Oro sem saber orar. Falo contigo, a quem eu nunca vi, cuja voz jamais ouvi e cuja presença às vezes não sinto. A Ti, a quem nós que seguimos Jesus chamamos de Pai. Não entendendo o mistério de um só Deus que é três pessoas eu falo da minha vontade de conhecer-te e deaprender a falar contigo. Nem sempre sei o que dizer, e não sei dizer o que sinto. Meus diálogos contigo padecem do meu limite de não saber conversar com alguém que nunca vi. 

Assim sendo, perdoa-me, se eu orar errado; se disser coisas que não correspondem aos fatos, ou se me referir a Ti de maneira errada ou inconveniente. Acontece que não sei como és, não conheço o som da tua voz e vivo da fé que recebi dos meus antepassados, fé que a Igreja me oferece. Não sei crer sozinho. Preciso de outros para desenvolver e expressar a minha fé. Mas os outros também não sabem tudo. Então, cremos e oramos como sabemos e dentro dos nossos limites

É o meu primeiro pedido: que me ensines a falar contigo. Ainda não sei me dirigir a Ti. Mentiria se dissesse que sei.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Solenidadade da Dedicação a Nossa Senhora da Basílica de Santa Maria Maior


Segunda-feira, 5 de Agosto é dia da Solenidade da Dedicação da Basílica de Santa Maior a Nossa Senhora, uma das quatro basílicas papais de Roma. Situada no centro da capital italiana Santa Maria Maior é o mais antigo santuário mariano da Europa. Foi construída a mando do Papa Sisto III pouco depois do Concílio de Éfeso do ano 431, em que Nossa Senhora foi solenemente proclamada Mãe de Deus.

Para marcar este dia está prevista às 10 horas locais a celebração da Santa Missa presidida pelo Cardeal Arcipreste da Basílica, Santos Abril y Castellò. Às 17.15 as Segundas Vésperas. Em ambas as celebrações, haverá, como habitualmente, a chuva de flores em recordação do “Milagre da Neve”, ou seja da prodigiosa caída de neve sobre o bairro Esquilino (onde foi posteriormente erguida a Basílica) ocorrida a 5 de Agosto do ano 358.
Segundo conta a lenda, Nossa Senhora apareceu em sonho ao Papa Libério, pedindo-lhe que fosse construída uma Igreja lá onde teria nevado.
A Solenidade da Dedicação da Basílica a Nossa Senhora é normalmente precedida de um Tríduo de oração de 2 a 4 de Agosto.

Fonte: radiovaticana.va

Se eu for para o céu - Pe. Zezinho, scj

Se eu for para o céu;- e espero que Deus tenha pena de mim e me dê esta graça- se eu for para o céu, tenho certeza de que terei companhia. 

Creio e afirmo que o céu existe e tenho certeza de que,
lá no céu, estão todas as pessoas que souberam amar e ser amadas. Tenho certeza absoluta de que no céu existe gente de todas as religiões e também muitos ateus. Quem sou eu para dizer a Deus quem ele deve levar para o céu? 
Não vou ficar pregando e dizendo quem vai ou não vai para o céu. Já poderei me dar por realizado e feliz se eu conseguir entrar, não apenas porque fui católico, mas porque pedi perdão e perdoei e ajudei as pessoas do jeito que eu podia.
Se eu for para o céu, vou conhecer líderes e seguidores das mais diversas religiões que este planeta já conheceu. Provavelmente teremos uma boa conversa sobre o que é seguir uma religião. Eles me falarão das coisas em que acreditavam aqui na
terra e de como Deus foi mudando seu pensamento e seu coração aos poucos. Eu lhes contarei como foi meu processo de me tornar mais católico. 
A conversa provavelmente será muito bonita e muito longa. Então eu conhecerei um pouco mais sobre todas as religiões que já passaram por este planeta.

Se eu for para o céu, tenho certeza de que encontrarei lá, ex-drogados, ex-assassinos, ex-prostitutas, ex-ladrões arrependidos e encontrarei também aqueles que foram bons a vida inteira. Teremos oportunidade de falar sem a pressa daqui, sobre a experiência de vida de cada um e sobre como Deus foi, pouco a pouco, convertendo-os, até que os tornou pessoas abertas à sua graça.
Acho que no céu há mais gente que no inferno, mas isto é apenas o meu ponto de vista. Posso estar errado. Como creio na misericórdia de Deus, acho que Ele dá todas as chances, até o ultimo segundo para a pessoa escolher o colo dele. Mas acho que Deus respeita a liberdade humana. Não é possível amar com medo ou á força. Este é um mistério de difícil explicação. Alguém pode rejeitar o seu criador por toda a eternidade? A Bíblia diz que sim. O mistério é a situação não dos que Deus rejeitou, mas dos que o rejeitaram. 
Agora, pelo que eu tenho visto aqui neste planetinha há um tipo de gente, que se eu for para o céu, eu provavelmente não vou encontrar lá. Ou vão estar em alguma porta de entrada, negando-se a entrar. Porque aqui na terra se acharam mais santos do que os outros e nunca aceitaram se misturar. Eram só seus livros, seus cantos, suas preces, seus pregadores, seu jeito e seus lugares. Os do outro por melhores que fossem não prestavam. Talvez se convertam antes, mas se forem para lá provavelmente quererão ficar no canto deles, cantando seus cantos e não os dos anjos nem os dos outros, ouvindo seus pregadores particulares porque os dos outros não servirão. Não se misturarão
com ex-ateus, ex-prostitutas, ou gente de outras religiões que eles combateram. Não sei como vai ser, mas pelo que vejo aqui na Terra, vão querer um Deus só para eles no céu. 
Isto mesmo! Se existe alguém que não vai entrar no céu, são os donos da verdade, os mais eleitos, os fanáticos. E não é porque Deus não os queira no céu. Eles vão querer missa e culto só deles e não vão querer entrar onde há outros que não foram do grupo deles!.
Fanático não se mistura. Ele é o tipo de sujeito que quer a praia especial só para ele e provavelmente vai querer o céu adaptado a ele e aos do seu grupo.
Como Deus teimosamente quer o céu para todo mundo- disso eu tenho certeza- eles não vão querer entrar. O problema deles não é orar, ou cantar. Se problema é orar e cantar como os outros. Não conseguem! Tem que ser do jeito deles!

FANÁTICO NA TERRA, FANÁTICO NO CÉU.

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domingo, 4 de agosto de 2013

UM POVO ROMEIRO NA XVI ROMARIA DA TERRA EM SOBRAL: “TERRA, ÁGUA, COMUNHÃO: BEM VIVER EM NOSSO CHÃO”.

Flávio Telles Melo*

O povo de Deus, desde que foi chamado, por meio do patriarca Abraão (Gn 12), a sair de Ur da Caldéia, na Mesopotâmia, para a terra prometida, Canaã, é um povo peregrino. É um povo caminhante. Um povo nômade a procura de melhores dias, de uma melhor situação de vida. Assim foi que Moisés (Ex 13 – 14) libertou seu povo da opressão do Egito e conduziu o povo de Deus pelo deserto, na certeza que o Deus da vida lhes acompanhava. Deus ia a sua frente e não lhes abandonava por mais infiel que o povo pudesse se mostrar em alguns momentos. É o Deus que promete ao seu povo “uma terra que mana leite e mel” (Ex 3, 8). Javé é o Deus da terra prometida. É o Deus que está ao lado do seu povo na luta pela terra. A terra significa para o povo de Deus a meta, o objetivo a ser realizado. Trata-se da realização das promessas de Deus ao seu povo. Isso porque nas Escrituras a benção de Deus pelos patriarcas significava fundamentalmente o advento da realização plena da vida em todas as suas dimensões, isto é: a posterioridade, a descendência e a longevidade. Mesmo depois de ter se tornado sedentário, fixado em sua terra, o povo judeu continuou sendo um povo caminhante. Era costume todo ano o povo se dirigir ao templo de Jerusalém em caravanas para celebrar a sua libertação da escravidão do Egito, a sua Páscoa, e outras festas religiosas. Deus sempre se faz do seu povo para que o povo se faça um Povo de Deus.

Hoje o novo povo de Deus, se mostra caminhante sempre rumo à terra prometida e repartida, de fraternidade e de comunhão entre Deus e seu povo. O povo caminha rumo à celebração definitiva da realização plena do Reino de Deus na sua história. Assim o povo de Deus tem feito romarias da terra por todo nosso país e pelo Ceará a muitos anos. Essas romarias tem sido momentos ricos de espiritualidade daquele cristão que só consegue viver a sua fé na vida de luta pela partilha da terra, da água, do pão, do saber e da alegria de se saber irmãos membros de um novo mundo onde não haja desigualdade e nem injustiças e opressão.

Assim, as romarias da terra tem sido também momentos proféticos de denúncia, anúncio, comunhão, celebração e fortalecimento da fé e do ânimo na luta de todo dia. É momento de denunciar a concentração da terra e da água nas mãos de poucos, se beneficiam dos grandes projetos governamentais (Am 5, 11-12). É momento de anúncio da boa nova do Reino de Deus que vem trazer uma vida em abundância (Jo 10, 10), que se concretiza na terra e na água conquistadas pela luta do povo. É momento de comunhão (At 2,42) e de fraternidade do povo que se se faz irmão na mesma luta e nos mesmos sonhos de uma nova sociedade construída pelas mãos dos que mais sofrem. É momento de celebração e de louvação da glória de Deus que se manifesta na glória da pessoa humana que conquista, pela organização popular, a sua libertação (Ex 15; Sl 37; Sl 41).

Nesse ano a XVI Romaria da Terra do Ceará acontecerá pela primeira vez aqui em Sobral, no sábado, dia 17 de agosto, com o tema “Terra, Água, Comunhão: bem viver em nosso chão”. Será um momento forte de celebração da luta pela terra e água no nosso Estado. Ao mesmo tempo, será um momento para, profeticamente, denunciarmos a concentração de terra nos municípios da nossa diocese, a exclusão da maioria da população dos grandes projetos em Sobral, a extrema desigualdade presente na cidade de Sobral, com o centro e alguns poucos bairros recebendo benfeitorias e a periferia ficando ao abandono; em contraste com a especulação imobiliária.

À medida que, nos últimos anos aumentou a concentração de terra, aumentaram, por outro lado, os conflitos de terra em municípios como Sobral e em Santa Quitéria, onde encontramos acampamentos de trabalhadores rurais resistindo à espera de desapropriação de terras. A expansão do perímetro urbano de Sobral tem provocado a expulsão de camponeses, com exceção de algumas famílias da comunidade de Mucambinho que, por isso, sofrem atos de violência e de ameaças. Ao mesmo tempo em que constatamos uma falta de política pública que beneficie a agricultura camponesa (uma política de acesso à terra, da agricultura consorciada em diversas culturas e o trabalho familiar), por outro lado é patente a valorização de uma agricultura empresarial. O agronegócio nos perímetros irrigados do Baixo Acaraú, Araras Norte, Jaibaras e Forquilha tem usado de forma privada recursos naturais que são públicos. Esses projetos, com o uso intenso de veneno, adubos e fertilizantes químicos, tem provocando a contaminação do solo dessas regiões. A produção da fruticultura voltada para o mercado externo (Europa) utiliza de forma privada a água de açudes públicos e do rio Acaraú. Por fim, a exploração, por meio de quatro grandes empresas, vinculadas ao agronegócio do coco, tem gerado conflitos e expropriação de territórios indígenas, especialmente os tremembés de Acaraú e Itarema ao mesmo tempo em que, empregando indígenas, precariza a mão de obra. Outro problema que os índios e pescadores têm enfrentado tem sido com a carcinicultura no baixo Acaraú, que, ao se expandir no litoral, além de expropriar terras dos pescadores tem contaminado o ecossistema os mangues daquela região.

Vejamos, agora, como a Pastoral da Terra do Ceará foi nesses últimos anos consolidando na vida da Igreja e dos camponeses a experiência das romarias da terra. Em 1984, há quase trinta anos, a CPT – Ceará iniciava a caminhada das romarias da terra com a romaria de Canindé, na terra dos romeiros de São Francisco das Chagas, com o lema POVO DE DEUS EM BUSCA DE TERRA E PÃO. A II Romaria da Terra aconteceu em 1985, em Juazeiro do Norte, na terra dos romeiros do Padre Cícero, e teve como lema CAMINHEIROS EM BUSCA DA TERRA LIVRE. As duas romarias seguintes, a III e a IV, acontecem novamente em Canindé; a III, em 1986, com o lema BUSCAMOS A JUSTIÇA E A VIDA NA TERRA MÃE e a IV, em 1988, com o lema LIBERTAR A TERRA, CONQUISTAR A VIDA. Acontece em Limoeiro do Norte, no Vale do Jaguaribe, em 1990, a V Romaria da Terra com o lema TERRA E ÁGUA: VIDA DO POVO. Na terra de Antônio Conselheiro, Quixeramobim, ocorre, em 1993, a VI Romaria com o lema NORDESTE: TERRA PROMETIDA AOS NORDESTINOS. A VII Romaria ocorre em Crateús, 1995, com o lema TERRA LIVRE, ÁGUA LIVRE, O SERTÃO FLORESCERÁ. No centenário do massacre de Canudos, em 1997, ocorre a VIII Romaria da terra, desta vez em Iguatu, com o lema NA LUTA POR TERRA E ÁGUA, O RENASCER DE CANUDOS. Retornando a Canindé, em 1999, a CPT realiza a IX Romaria com o lema CONQUISTAR TERRA, TRABALHO, VIDA. Retornando a outra cidade de romarias, a CPT realiza em Juazeiro do Norte a X Romaria com o lema DA TERRA E ÁGUA LIVRES, BROTA O MILAGRE DA VIDA, 2001. Pela primeira vez em Aracati, a CPT celebra XI Romaria com o lema ÁGUA E TERRA MÃE: DOAÇÃO DE DEUS, DIREITO DE TODOS, em 2003. Retornando ao Sertão Central, em Quixeramobim, em 2005, ocorre a XII Romaria com o lema POVOS DO CEARÁ, RETOMANDO SUAS TERRAS PARA VIVER, PRODUZIR E CELEBRAR. Em 2007, a capital do Estado recebe a XIII Romaria da Terra que tem como lema SOMOS TERRA, SOMOS ÁGUA, SOMOS VIDA! Depois de doze anos, em 2009, a Romaria volta a ser em Iguatu, desta vez com o lema O SEMIÁRIDO EM ROMARIA, POR MAIS VIDA E CIDADANIA! Há dois anos, em 2011, Itapipoca recebe pela primeira vez uma romaria, a XV Romaria da Terra, agora com o lema NO TESTEMUNHO DOS MÁRTIRES: TERRA, ÁGUA E DIGNIDADE.

No próximo mês de agosto chegará a vez de a nossa diocese receber os romeiros que, a partir de sua fé no Deus libertador, lutam por terra, água e comunhão. Eles veem de todas as dioceses do Ceará (Fortaleza, Itapipoca, Tianguá, Crateús, Limoeiro do Norte, Quixadá, Iguatu e Crato). Recebamos com muita alegria nossos irmãos e companheiros de luta. O dia 17 de agosto será um dia histórico para a Igreja de Sobral, para a CPT diocesana, para as pastorais sociais, os movimentos sociais e para todos aqueles que se solidarizam com a nossa fé e nossa luta. Sobral será um ponto de chegada para todos os romeiros da terra e será, para nós, um ponto de partida para o fortalecimento da nossa fé, da nossa luta e estímulo para que mais cristãos de Sobral se engajem nos trabalhos da CPT. Assim os trabalhadores rurais da zona norte do Estado, após essa romaria da terra, com certeza, sentirão mais ainda a presença evangelizadora e solidária da Igreja de Sobral à sua luta.

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*Professor de Filosofia da UEVA. Licenciado em Teologia pelo Instituto de Teologia Pastoral (ITEP), hoje Faculdade Católica de Fortaleza (FCF). Mestre em Filosofia pela UECE.

ENSAIO DAS MÚSICAS PARA 16º ROMARIA DA TERRA EM SOBRAL